quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Um contágio de oportunismo e preconceito‏

Voltei de férias segunda-feira. Estou num humor incrível e que acho que perdurará ainda por um bom tempo. Mesmo assim, não deixo de ficar indignado com certas coisas que fico sabendo aqui onde trabalho. Não tem nada a ver com a empresa, com classe social. Talvez com nível sócio-cultural e, certamente, com a criação que as pessoas tiveram enquanto crianças.

Estamos nessa maldita epidemia de gripe, que começou como “Suína”, virou “H1N1”, “Influenza”, “Gripe A” e pode virar “Gripe X”, “Gripe Y”, “Gripe Z”, “Gripe Beta” etc. Eu mesmo fiquei gripado nas férias e acabei em um posto de saúde para checar a gravidade da mesma. Quando informei a atendente que estava com gripe, ganhei uma máscara em questão de segundos e foi orientado a esperar do lado de fora para evitar contágio. Sim. É mesmo um assunto muito sério que deve ser tratado com todo cuidado possível. Por sorte, tive apenas uma gripe comum.

Ao voltar segunda-feira ao trabalho, depois de deixar minhas coisas na mesa, comecei minha jornada (sim, são mais de 50 pessoas) de mesa em mesa para dizer o bom-dia, cumprimentar os rapazes com um aperto de mão, trocar uma idéia, dar um abraço, e dar um beijo nas meninas. Sempre fui tímido e demorei muito para me acostumar com isso, de cumprimentar pessoas assim, mas hoje já faço automaticamente e até com uma certa tranquilidade.

Percebi que algumas mulheres me olhavam com um certo desconforto ao ver que eu iria beijá-las para dizer o bom-dia. Sempre tem gente que é tímida, que não se sente à vontade, mas mesmo assim eu as cumprimentava, pois acho ainda mais chato “ignorar”, fingindo que não vê uma pessoa, e cumprimentar outra que está exatamente do lado dela. Muita falta de educação mesmo! Nesses olhares de desconforto que recebi, depois eu ainda percebi que algumas até trocavam olhares entre si de “como ele é sem noção”.

Só fui entender tudo quando minha chefe, que também é minha amiga, veio me dar as boas-vindas e me explicar, “Léo, tem gente que pediu para não ser cumprimentada por causa da gripe. Não é mais para ir dar bom-dia em tal setor.”

Boquiaberto: “Mas como isso? Quem está gripado não é nem pra vir trabalhar numa epidemia dessas. Aqui se um tiver a tal gripe, todo mundo pega” (porque é um ambiente fechado).

Outra amiga, que também faz parte da CIPA (é, eu faço), me explicou melhor: algumas pessoas enviaram um e-mail pedindo para não serem cumprimentadas devido à gripe. Até aí, tudo bem. É cabível, compreensível. Mesmo assim, não gostei do modo que recebi os olhares quando fui cumprimentar as pessoas, pois eu estava de férias e, até então, não tinha ligado a minha bola de cristal para saber disso.

Paralelo a isso, as mulheres com quem tenho mais proximidade aqui chegavam em mim e diziam, “Léo, pode vir me cumprimentar, viu? Não tenho problema com isso.” E falavam isso com um misto de ironia e indignação.

Boiando cada vez mais, pedi para minha colega cipeira me enviar o tal e-mail dos cumprimentos para que pudesse tentar entender. Aí subiu o sangue e eu lembrei que não estou rodeado só por anjinhos e pessoas de bem. Fora o conteúdo “técnico” referente à enfermidade, havia exatamente o seguinte trecho:

“Como posso dizer que não quero ser beijada no rosto enquanto estou na minha posição de trabalho e vem aqueles de boca aberta na minha bochecha??? Que tal criarmos uma campanha e colocar nas mesas para que certas pessoas se toquem???”

“Deus, me tira daqui! Olha isso!” A autora da frase, que afirmo de antemão nunca ter tido qualquer tipo de problema, mas também nenhuma afeição (nunca fedeu nem cheirou pra mim), é uma daquelas pessoas que eu achava que era tímida, que se sentia “desconfortável” ao ser cumprimentada por pessoas do sexo oposto com um beijo. Tanto que ela NUNCA me retribuiu o cumprimento. Sempre que eu a beijava, recebia em troca um bom-dia super fake e um rosto virado sem um beijo ou barulhinho de beijo.

Óbvio que eu não encosto minha boca na bochecha de ninguém que eu não tenha afinidade! O “cumprimento beijo” neste caso é a mera formalidade de encostar as bochechas e fazer o barulho de selinho com a boca. Um simbolismo. Nada mais formal e “clean” (ficou até frufru agora...rs).

O que eu percebi na declaração da “colega” de trabalho é que ela (e outras que estão envolvidas na questão) não quer ser “beijada” por pessoas que ela não têm afinidade com ela e aproveitou a gripe para dar uma basta nisso! Pior: demonstrou um nojo (que ironicamente me dá náuseas) e um preconceito absurdo com as pessoas fora do círculo de amizade dela. Isso porque, claro, os amigos (na verdade são bem poucos) dela ainda ganham beijinho no rosto e vice-versa.

O que uma pessoa ganha sendo assim? O que essa “tchurminha” ganha sendo assim no próprio ambiente de trabalho? Imagina se alguém com preconceitos e nojos assim chegar a um cargo de liderança, tendo que comandar outros seres humanos que não são de seu círculo de amizade?

A parte boa nisso é que eu não preciso mais cumprimentar uma pessoa que tem “nojo declarado” de mim (por não fazer parte de seu círculo de amigos, assim como a maioria esmagadora das pessoas de lá). E a parte melhor disso é que a reação do povo, ao saber desta postura, parece que ficou tão indignado quanto eu e passou a fazer ironias enormes durantes os cumprimentos: “aqui pode dar beijo, não sou fresca”, “puxa, não pare de me cumprimentar, hein?” e por aí vai. Parece até que o pessoal ficou mais unido! E ninguém aqui tem nenhuma suspeita de gripe, porque quem tem, sabe muito bem que deve ficar em casa!

Parece uma enorme fofoca, mas é que casos de preconceito e oportunismo me deixam muito puto! E o pior é que com certeza isso veio do berço mesmo...

2 comentários:

  1. Hehe.... foda né?
    Esse tipo de gente deve ter vivido a infância (se é que tiveram) num "casulo", nunca subiram numa árvore, nunca brincaram num montinho de areia, nunca tomaram banho de chuva, nunca brincaram de queimada, pega-pega, bolinha de gude, carrinho de rolimâ... etc.. São as famosas crianças criadas no tapete da sala que, quando crescem, ficam nojentinhas. Por isso: pais, dêem aos seus filhos uma infância digna para que não fiquem "frescurentos" quando crescerem!

    Um abraço!

    Luiz "louis" Soares

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  2. Ainda bem que eu não trabalho nesse lugar... pq o que eu já tive de micose, piolho e acho que até sarna, eu ia acabar sendo o E.T. da empresa... hahahahahaha
    Bjos da futura esposa do Louis!

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